
Quando era miuda ía-se ao sábado ao mercado. Um edificio coberto dividido por sectores. Entrava-se e do lado direito à esquerda, estavam as padarias e os talhos. Ao lado umas escadas que davam acesso ás frutas e legumes – os produtores locais de um lado e os outros do outro. Na parte de fora os tremoços de todo o tipo e as coisas de semear.
Mas a minha parte favorita era a zona do peixe – logo a seguir ás flores não muito longe do pão.
A zona do peixe estava permanentemente inundada. saltava-se de poça em poça. tinha cheiros estranhos mas não desagradáveis, falava-se muito alto e o peixe estava coberto de pedras gigantescas de sal que ás escondidas eu apanhava… e gostava daquela acidez que me ficava na boca que me lembrava o mar.
Hoje, mais de 10 anos depois, voltei à zona do peixe, que é limpa, sem cheiros e sem sal. Há pedras de gelo. E grita-se menos, mas continua-se a ouvir o diga lá minha linda, meu amor e meu anjo aquela coisa de peixeira que se aprende quando se vai para lá trabalhar mesmo quando nunca se passou a noite de pés na areia e credo na boca, como eu imaginava que as outras faziam. Não é que as outras alguma vez o tenham feito, mas eu cresci a ver a Faina e afins e quando se cresce em pseudo-ambiente de esquerda a classe trabalhadora tem que ser sofredora.
Hoje pedi as 4 douradas e a miuda gira, morenona, matulona, mais ou menos da minha idade (miuda portanto), diz-me:
– Oh amor são 10 euros e 3. Mas esteja descansada minha linda, que não lhe peço os 3 de volta que até parecia mal.
– Han? -digo eu – Ahhh! exclamo vários segundos mais tarde. E saí de lá reconciliada.
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