…de gata Tia

A pequena Tia apareceu nas nossas vidas no Sábado de Aleluia depois de um descuido meu em que mencionei ao veterinário local que gostariamos de ter um gatinho muito pequenino para o cão ter oportunidade de se habituar a ele e vice-versa. Nessa tarde recebemos um telefonema de um Hotel local a pedir para irmos escolher um bichinho ao parque de estacionamento. Depois de dois dias de Gui a dar instruçoes à amiga para se rebolar debaixo dos carros estacionados enquanto ela dava as ordens, o bichinho foi apanhado e trazido para casa enrolado num plastico.

Ao ser lavado descobrimos que era branco.

Come e come e come e rebola-se aos nossos pés para ser coçado na barriga. É menina e chama-se Tia. 4 meses passados continuamos a ficar eprdidos a olhar para o bicho e as posiçoes irreais em que dorme. Esta coisinha pequena é profundamente meiga e sem que ninguem desse conta, conquistou um lugar, ocupou um espaço. Por vezes esquecemo-nos que estas coisas acontecem. Alguem entra nas nossas vidas, seja bicho seja gente, e toma-nos conta do coração e não temos uma palavra a dizer durante o processo porque quando damos conta a coisa está feita!

Seja bicho, seja gente.

E por isso a vida vale a pena.

de aniversário…

A minha filha fez anos.

Foram 9.

Fez um convite lindo em Inglês.

Em Inglês.

Depois os meninos vieram e falaram e brincaram todos em Inglês.

Brincaram em Inglês porque a partir de certa idade as brincadeiras têm linguas. E à medida que crescem essa linguagem refina-se excluindo outros tipos de comunicação se não estivermos alerta.

Cá em casa manda-se a miuda à escola Internacional e depois imaginamos as sensações dos milhares de emigrantes Portugueses que mandam os filhos para as escolas dos países de acolhimento e vão buscá-los ao fim do dia a um outro planeta sem que ninguém os apoie na ponte entre esses dois mundos.

Na escola dela há meninas Africanas que tiram a peruca de cabelos lisos ao intervalo para arejarem a cabeça explicando que trocam de modelo todos os meses. Há meninas Japonesas que colocam os dois dedinhos no ar em todas as fotos e têm mães delicadas e doces para toda a gente. Há pais que vão ensinar origami e Francês e isto e aquilo e os miudos sentem-se uma comunidade que se reune periodicamente em Assembleia para mostrarem uns aos outros o que andam a fazer.

Mas mais importante do que isso, a minha filha fez 9 anos e pela primeira vez compreendi que ela é completamente feliz.

Em paz com ela própria, com o mundo que a rodeia e com o universo que criou.

E é nisso que ambos pensamos quando nos agarramos um ao outro na vã tentativa de não morder os pulsos quando ela toca pela enésima vez o “Persian Market” na pianola…

Parabéns, querida!

9

Foram nove…

de acertos…

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Os novos amigos já são queridos mas não substituem a tristeza da distância dos antigos.

E eu gosto que seja assim. Gosto da ideia de ter ajudado a moldar um ser com a capacidade de sofrer por quem gosta. Por muio que me angustie a tristeza dela. Por muito que a angustie a tristeza, a ela.

A saudade é um privilégio. A dor da saudade é inferior à dor de se não conseguir sentir falta de nada, de se não conseguir estabelecer laços com gente, coisas e sítios; deixar marcas e ficar marcada.

E assim vamos andando, construindo sem esquecer o que fica para trás.

Crescendo.

de fim de semana…

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os fins de semana revelam-se estupidamente curtos.

o cansaço ocupa-os. a vontade dormir retira tempo para o resto.

quarta é dia de aniversário longe das amigas do costume. os presentes serão pirosos para compensar a tristeza.

sai-se das lojas com a irritante gata japonesa  dentro de uma caixa perfeita e espera-se que isso compense.

sente-se a tentação de fazer o bolo a condizer.

e sabe bem ter estas preocupações de volta.

o fim de semana trouxe praia cristalina, picadas de insecto, diarreia de cão, sopa misou para uma barriga que dói, muito sol e a descoberta de um sítio novo com sumos de abacate.

espera-se pelo próximo fim de semana.

Arrastamo-nos os três para a segunda que chega, com muito pouca energia, com saudades da areia nos pés e a praia cristalina e preparados apra a próxima dor de barriga, picada de insecto, sumo de abacate e tentando não pensar muito na potencial diarreia, do cão que insiste em devorar areia …

de adptasaun…

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há coisas mais fáceis outras mais difíceis.

apercebemo-nos de que a linguagem universal da brincadeira desaparece a partir de uma certa idade, causando algum isolamento e fazendo as crianças falarem outras línguas mesmo quando partilham a mesma.

os gostos definem-se, as preferências, os livros, os heróis dos filmes, as canções que se coreografam… e depois ningém sabe destas coisas, ninguém conhece, e a barriga tende a doer antes de dormir e logo pela manhã ao acordar…

o que ela não sabe ainda é que os crescidos também sentem estas coisas

de aniversário…

7 anos!

7!

sete…

e amigos amorosos

Tio Verme, Tiphaine, Paulinho, Tomé, Lita, Yukiko, Sienna, Anne-Marie, Carmen, Silvia, Diogo, Maria João, Sara, Diana, D.Marga, Carlos, Erin, Kumi, Yoshi, Florian, Tina, que mesmo a viverem já no dia seguinte, ou no dia anterior e que mesmo sem estarem fisicamente connosco há imenso tempo, recordam a data, celebram à distância e relembram-me o que dificilmente esqueço: que é um privilégio ser mamã desta minha menina.

E às amigas Flickr que fazem já parte dos nossos dias…

E à familia…

Obrigada!

e Domingo celebramos!

de que lindos são os filhos…

cheia de boa vontade, levo a G. e uma amiguinha a almoçar fora em plena semana de aulas.
coisa de miúdas crescidas, de “ladies who do lunch”.
a certa altura no restaurante senta-se na mesa ao lado um adolescente com um penteado com vida própria, endereço de email e provavelmente número de contribuinte e a amiga da G. faz um comentário surpreendentemente elaborado certeiro e sarcástico para uma piolha de 6 anos. E eu, a mais infantil das três digo-lhe:
– cuidado, ele pode ouvir-te.
e ela responde depois de lhe tirar as medidas:
– penso que seria mais rápida do que ele a correr e estamos muito perto da porta.
– mas eu sou um bocado lenta – digo-lhe eu.
nesse momento a minha adorada filha, a minha menina, a luz dos meus olhos, resolve vir em meu socorro.
– sabes – diz ela com ar de compaixão à amiga – a mamã tem maminhas grandes, estás a ver? – e coloca-lhes as mãos em cima para facilitar a identificação das mesmas – e quando a mamã corre as maminhas fazem assim para cima para baixo para cima para baixo – e exemplifica com as mãos – e não é confortável para ela, percebes? Por isso é que ela é mais lenta.

de…

 

deixem-me dizer-vos, eu muito hip mum ando há quase um ano a cantarolar à menina “Maggie uh uh uh nan nan nan nan nan nan Maggie uh uh uh” assim tipo como quando se é miuda e se inventa o inglês. e ía-me esquecendo dia após dia de descobrir de quem raio era isto e de fazer o download ilegal ou algo no género de forma a aprender mais do que uma frase.

mas como nem nunca tinha visto o clip (sim eu sou dos anos 80), nem ouvido a musica completa, quando pensei em finalmente o fazer fui por tentativas – ora quem poderia ser? os BSS? não… a voz lembrava quem? o olavo bilac… poderá isto ser português? mas tem um toque assim de will.i.am. e lá fui escrevendo maggie e alternando com nomes e nunca lá cheguei.

ora hoje de manhã, de chávena de chá na mão e adoçante e porque sou muito cool, lá ligo a MTV e estavam uns meninos a cantar a Maggie, que afinal não é MAggie mas “beggin”. a coisa não começou muito mal, os meninos iniciam o clip a jogar Halo3, mas a coisa evolui e acaba com a miuda a beber leite de gatas com a língua… enquanto o Tshawe Baqwa grita:
Beggin, beggin you
Put your loving hand out, baby
Beggin, beggin you
Put your loving hand out darlin

um dia, ela vai crescer, e numa tarde de enfado liga a VH1 num program de Smells like 09 e sufoca de espanto ao concluir que a mãe lhe cantava isto em pequenina…

e assim se constroem memórias e destroem reputações…

de neve niege snow e instruções de utilização…

pois nevou por aqui!

a minha filha tropical, habituada ao sol de vários pontos da ásia, ao mar de vários pontos da ásia, porque a mãe só a passeia por lá, sobe a serra a repetir “eu não acredito, eu não acredito, nunca em toda toda toda a minha vida (uns loooooongos 6 anos) vi neve, isto é neve é neve…

e agora prestai atenção:

sim, se forem detentores de uma criança de 6 anos que anseie por fazer anjos na neve (parece que o ruca ensina os miudos estas coisas), vistam-na com várias camadas de camisolas; a interior fofinha com um dinossauro rex, a de gola alta rosa e macia, o camisolão em rosa semi contrastante e a inicial dela gigantesca à frente, não vá ela esquecer-se do próprio nome, e por cima de tudo isto o anoraque de tons muito selecção olimpica da europa de leste nos anos 80, mas muito eficiente dadas as sucessivas camadas que intercalam tecidos polares com muitos fechos e molas e coisas que se tiram e põem, oferecido pelo tio-avô e importado directamente dos EUA. Enfiem-na dentro de umas meias calças super quentes e com riscas coloridas em que pelo menos uma repita o tom da camisola. Por precaução calcem por cima umas meinhas pequeninas só para reforçar o pézinho (cuidado com a selecção da cor – sempre mas sempre num tom que se repita na meia calça – nesta caso optou-se pelo amarelo), dado que as botas da Crocs que lhe pretendem calçar, serão 100% impermeáveis mas muito muito frias. E agora atenção a este detalhe: nunca em momento algum vesti à vossa filha, aqueles jeans tipicos da benetton com ganga muito forte mas muito curtos na perna. A boa intenção da ganga forte e mais quente perde-se na totalidade quando combinada com os ditos crocs. Apesar do objectivo principal ser meramente estético – é importante que se vejam as riscas contrastantes no espaço entre a calça e a bota dando o toque Pipi – um pequeno detalhe ficou esquecido vindo mais tarde a ter consequências catastróficas; esta gente de palmo e meio (elas aos seis anos têm tendencia a ser assim do tipo mais rasteirinho), quando caminham ficam muito próximas do chão. Ao correrem, têm tendencia a aproveitar o espaço entre a perna da calça e a bota   – que não está coberta por umas quaisquer calças compridas  esteticamente incorrectas – enchendo a dita de neve. Esta neve por sua vez vai sendo calcada firmemente pelo pé permitindo que se vá criando um envelope de gelo em volta do pé da criança, fixando-o à bota e retirando-lhe qualquer sensibilidade.

frozen-feet

A criança terá tendência a queixar-se – o que na verdade é uma grande pieguice porque na realidade já não sente nada.

Mas se pretender ser piegas e estragá-la com mimos, dispa-a da cintura para baixo e torça a roupa, descalce a sua cunhada e calce-lhe as meias dela. Vá ao jeep da frente que estranhamente guarda um saco cama no porta bagagens, e embrulhe-a nele.

E pronto, definitivamente Crocs não serão uma boa opção, apesar da marca não fazer qualquer referência a neve nas indicações de utilização, o que para mim é uma falha gravissima…

À noite esta minha filha deitou-se e como uma velha repetia “eu nen acredito nem acredito em todo toda toda a minha vida nunca tinha visto neve. Nunca… e sabes, mamã, as meninas também podem ser piratas não é so serem princesas“. Escapa-me a lógica, mas a hipotermia provoca estranhos efeitos…

Nota: nenhuma marca patrocinou este post, mas estamos abertos a propostas.

Bonus photo: abaixo foto exemplificativa da melhor forma de sacudir neve do corpo de uma minorca.

sacudir

de “I have seen the Promised Land”…

esta noite os meninos negros na América, adormecem sabendo que o céu deixou de ser o limite quando se chega ao cimo da montanha e finalmente se vê a terra prometida.

a terra prometida não tem mel como a da Biblia; tem justiça social e uma mensagem de igualdade onde se deixa de falar em raça e se trabalha a unidade.

a terra prometida precisa de se estender pelo mundo e de o tingir e de chegar até aqui.

e nessa noite as meninas castanhas, adormecerão sabendo que o céu deixou de ser o limite quando não se acorda todos os dias a desejar que ninguem lhes note a cor.

a audácia da esperança é também isto.

it´s not just the economy, stupid

de que pequeninos nós somos…

a mãe snobada, loura apenas em determinadas zonas capilares, de manicura Francesa e ar afectado fazia os trabalhos de casa da filha de 7 anos enquanto esperava o inicio da aula de ballet.

a criança ía dando a indicação das cores que queria na decoração da página e a mãe pintava.

a certa altura diz a criança:

– pinta o cabelo do menino de castanho.

– qual menino? este chinoca? – pergunta a mãe

– o que é um chinoca?

– é um chinês, é o que nós chamamos aos chineses. chinocas!

e monhés aos indianos, minha senhora?

e macacos aos pretos?

e porque fiquei eu calada?

de growing pains…

agora que está na escola, e que por lá ficará por mais 12 anos – até ser dada como crescida e eu cheia de orgulho a ir fotografar a cair de bêbeda num cortejo académico – agora, vive-se de coração nas mãos.

Ou melhor, eu vivo de coração nas mãos. Numa aflição tremenda tipica de quem faz isto pela primeira vez e quer equilibrar o deixar crescer e encontrar caminho, com o interferir porque a caminhada é sinuosa.

Hoje, cheguei brilhantemente, sozinha, por volta das 6 da manhã, à conclusão de que será preferivel ralhar à minha filha por andar a dar porrada nos outros, do que consolá-la por ter levado ela porrada. Porque agora já não são os empurrõezinhos do infantário. É murro e pontapé.

No caso dela, pontapé em grupo.

agora que está na escola, é muito pouco interessante observar a teia de solidariedade que surje já em rascunho entre os meninos, a temperamentalidade e fluidez das relações entre as meninas e a forma como este micro-cosmo representa tão precocemente um mundo para o qual – aos 6 anos de idade – eles ainda não se deveriam estar a preparar.