ainda muito miuda, recebi da minha mãe um livrinho pequeno laranja com um desenho em preto na capa à moda de negreiros e um título “uma mao cheia de nada e outra de coisa nenhuma”. era de irene lisboa.
dos contos não me lembro de nada. irene lisboa era uma pedagoga que tratava as crianças como seres inteligentes não se compadecendo com inhos e inhas na literatura. certa ou errada na abordagem, a verdade é que não resta memória da escrita, mas o titulo durante anos e anos incomodou-me.
pequenos e repetidos momentos da infância foram passados sentada no chão em frente ao estirador do meu pai, no sitio onde o sol incidia com intensidade a uma certa hora. e repetidamente abria ora uma mão ora outra e tentava apanhar as partículas suspensas que os raios me permitiam ver. abria-as e virava as palmas para mim e não via nada. sabia que não tinham nada mas não as sentia cheias de nada.
e apesar de conseguir entender o conceito do nada, não conseguia – e falta-me o termo e só me vem à memória o inglês – não conseguia “grasp” o conceito de abarcar com a mão a plenitude do mesmo.
e fui crescendo e esquecendo a falta desse entendimento. e dei por mim em ocasiões diversas a virar as mãos para o sol, fechá-las e voltar as palmas abertas para mim, mecânicamente e sem memória da razão do gesto. e dei por mim de braço de fora no carro em andamento, a sentir a mão ondular com a velocidade do vento a tocar um tudo que se transforma em nada ao fechá-la.
e de irene lisboa não ficou a memória dos contos do livro laranja, mas ficou a marca do exercício de tentar entender o que não carece de entendimento e de tentar materializar a grandeza do nada simbolicamente representado numa mão cheia. cheia de coisa nenhuma. como a vida de muita gente.
e violo as minhas regras auto impostas e deixo o trabalho para te vir ler. e mais uma vez valeu a pena…
Também tinha esse livro ! 🙂
acho que saber ver a plenitude em coisas que parecem pouco ou nada é sinal de grande força interior !
que parvoíce. agarrar o nada. coisas de gajas…
tou a brincar, tou no aeroporto de lima, tou com vontade de chegar à europa e dizer parvoíces. é isso. o texto está giro, claro. see you soon.
mmux, tanto tempo mal investido nos workshops de gender…
Honestamente, muito honestamente, li o texto na diagonal que tenho que estudar inglês (credo estudar inglês… ao que eu cheguei) mas tenho que dizer que a Guigas está fantástica na fotografia.
A tua filha é linda.. não a conheci tão pequenina, mas linda, linda linda qd era quase bebé!
Esta miúda é um espanto!
Beijo às duas***
que bom ler este texto. obrigado
hoje vim aqui ter pelo blog da Virgínia (amo-te mil milhões), mas já cá tinha vindo. e tenho sempre vontade de voltar apesar de não a conhecer.
nasci em Timor e nunca lá voltei. quando era criança convivíamos muito com a comunidade timorense cá, hoje já não. votei, mas nunca lá voltei. vejo e revejo as fotografias e os slides e com o tempo a passar cada vez tenho mais vontade de lá ir, de lá voltar. até a minha filha pequena diz que quer dar a volta ao mundo e ir a Timor.
se calhar por tudo isso gosto tanto de aqui vir lê-la.
Um abraço.