
Hoje quando vinha para casa, antes de entrar, atravessei a estrada, saltei o murinho pequenino e entrei na praia. De repente sinto uma coisa a tocar-me a perna e dou um grito. Pensei que fosse uma cobra, daquelas cobras verdes que se escondem na vegetação junto à areia, mas quando olho para baixo vejo um bicho cor de laranja. Era o Hermenegildo.
E ele disse:
-Miauuuuuuuuu! – que em língua de gato deve querer dizer “Senta-te”, porque eu sentei-me e ele pareceu gostar.
Sentada tirei os sapatos e enterrei os meus pés na areia. Dois caranguejos muito muito pequeninos fugiram assustados.
(Tu não te recordas, mas tens medo de caranguejos.)
E correram para a água e desapareceram na espuma.
(Tu não te recordas, mas tens medo da espuma.)
Mexi os dedos dos pés afastando a areia. Dobrei os joelhos para os pés não tocarem na espuma. E ouvi:
– Miauau! – que em língua de gato deve querer dizer “olha para o mar”, porque eu olhei e ele pareceu gostar.
E ao longe, muito ao longe, vejo uma mancha grande cinzenta que entra e sai da água assim ondulante. E um repuxo que se eleva… Uma baleia! Uma baleia atrasada na sua viagem anual…
E sem abrir a boca gritei, gritei assim dentro da minha cabeça:
– Não tenhas pressa! – e fechei os olhos e repeti – Não tenhas pressa Baleia!
E ela pareceu-me abrandar e por momentos deixei de a ver e franzi os olhos e o Hermenegildo estendeu o pescoço e segundos depois vimos um repuxo maior do que os outros. Assim como se fosse um adeus.
E ficámos ali… menina e gato, de pescoço esticado a seguir a baleia atrasada, até o céu ficar laranja a despedir-se do dia.
Laranja como o gato.
Triste como a menina.
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