A borboleta de asas negras entra na sala de estar.
Bate as asas como se dissesse “bom dia” e eu respondo-lhe:
– Bom dia Borboleta de Asas Negras! – e digo isto em língua de gente porque penso que quem voa para uma sala e bate as asas em jeito de bom dia é bicho por certo muito educado que deverá entender línguas.
E continuo a ler o meu livro.
Pelo canto do olho vejo que ela continua a dançar agitando as asas e mostrando umas lindas pintinhas amarelas.
– Que lindas pintinhas amarelas, Borboleta de Asas Negras! – digo-lhe em língua de gente porque penso que quem dança assim com umas asas tão lindas merece um elogio.
E continuo a ler o meu livro.
Splash! Ouço eu e levanto a cabeça e vejo o Hermenegildo de patas no ar e unhas de fora a tentar agarrar a Borboleta.
E a borboleta sobe e o Hermenegildo salta. E a borboleta desce e o Hermenegildo salta. E a borboleta volta a subir e o Hermenegildo volta a saltar. E outra vez e outra vez e outra vez. Como se fosse uma dança.
E cansado o Hermenegildo desiste e deita-se, fechando os olhos como se nada daquilo o interessasse. E a Borboleta passa ao meu lado e bate as asas como se dissesse “então adeus”.
E eu respondo em língua de gente:
– Então adeus Borboleta!
E o Hermenegildo sem abrir os olhos abana uma orelha como se dissesse:
-Pfffffff!