Existe um certo tipo de mães que sempre abominei – as que fotografam quase tudo, inclusivé o primeiro cócó no bacio, e insistem em partilhar as imagens com todos aqueles que conhecem.
À excepção do cócó no bacio, situaçao com a qual nunca lidei de olhos abertos, nem sem dedos no nariz, apesar do amor que dedico à menina, terei que admitir que me transformei num desses seres.
No primeiro dia de aulas, eu, a menina, a avó e a tia (somos lamentavelmente uma familia pequena), fomos em Embaixada até à Escola. Ocupámos 4 lugares na segunda fila (não gostamos de dar nas vistas) e sacámos das duas máquinas fotográficas (porque possuimos alguma classe, coibimo-nos de utilizar câmaras de filmar).

Tirámos apontamentos, gravámos números de telefone, endereços de email, listas de material, datas de reuniões, ofereci-me , assim sem ninguém me obrigar, como representante, enfim, um horror de motivação, entusiasmo, medo, pânico, alegria, histeria, típica (prefiro eu pensar) de quem se vê nisto pela primeira vez e exige levá-lo muito muito a sério.
Mas, quem olhasse para estes Três Tristes Trastes (digam lá isto 5 vezes muito depressa sem se enganarem), assim em redor da pobre criança, a revezarem-se ao lado da cadeirinha dela – já na sala de aula, para tirarem fotos – nunca imaginaria que a loucura não se limitava áquele espaço, a loucura tinha começado muitas horas antes, numa vivenda não muito longe dali…
Voltemos atrás: O dia amanheceu fresco permitindo vestir as roupas novas compradas segundo a tradição familiar, especialmente para aquele dia. A menina sabia que ía haver surpresa. Qualquer coisa antes da Escola começar. E que seria responsabilidade da tia…
A Tia chega de olhos injectados (bebe, coitadinha? – pensam vocês. Não. Noite de turno no Hospital…) e começa a loucura…
Voltemos ainda mais atrás: Alemanha, 1810 (mais coisa menos coisa), alguém se apercebe que o acesso à educação era uma coisa que valia a pena ser celebrada e que as crianças deveriam ver o seu primeiro dia de aulas – de sempre – como um marco. E assim, surge a ideia de pais ou avós oferecerem ás crianças no seu primeiro dia de aulas, no dia em que iniciam uma caminhada no sistema educativo, um cone de papelão com cerca de 85cm (schultüte), onde são colocadas pequenas guloseimas e materiais para a escola. Cada criança recebe o seu cone antes de ir para a Escola e leva-o consigo. Já na escola cada um abre o seu e descobre o que está lá dentro. diz-se que existe nas casa dos Professores uma árvore destes cones e que quando eles caiem, é sinal de que chegou a hora da escola começar.
Por aqui aconteceu muito mais do que isso!
Houve o Schultüte:

Houve o bolo especial de chocolate:

a abertura:

as primeiras flores recebidas, e a tia Jana que de olhos vermelhos da noite por dormir (não, já disse que não bebe), transforma um dia especial numa coisa tão mágica que nos fez ir a todos nessa noite para a cama com aquela sensação de noite de Natal, de noite aniversário, em que não sabemos bem porquê, mas tudo parece mais macio, e o mundo e a vida e os dias uma coisa muito boa para se viver.

Küsschen Tante Jana!